domingo, 24 de abril de 2011

Documentário resgata memória, vida e obra do sambista Da Costa

A câmera ainda estava nas mãos do diretor Ítalo Rocha, que havia acabado de concluir o documentário ‘O teatro de Betho Rocha’, quando, em conversa com a produtora Daniela Andrade, surgiu a idéia de eternizar a vida e a obra de outro importante artista acreano ‘caído no esquecimento’, o cantor e compositor Da Costa. Pedreiro, ajudou a construir o Palácio Rio Branco. Sambista, formatou no Acre o ritmo musical genuinamente brasileiro que o levou a tocar em palcos de outros estados e cantar seus sambas junto com Noite Ilustrada e Paulinho da Viola.

A boa idéia ganhou corpo e voz com a aprovação do projeto pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo do Estado em 2010 e o documentário ‘Este Samba Não Diz Nada’ está em fase de finalização. Ainda sem data precisa de lançamento, tem previsão para ser exibido ao público ainda no primeiro semestre deste ano.

Nascido Jofre Barbosa da Costa, em 1930, Da Costa compunha e interpretava canções de Ataulfo Alves e Ciro Monteiro e mantinha parceria com o também acreano Jorge Cardoso, um dos convidados para participar da gravação do documentário que impôs um novo desafio à produtora Artrio, que assina o trabalho. No início, a receita entrevista/material de apoio/entrevista era o caminho mais fácil, mas a equipe formada por um grupo de amigos, profissionais de áreas diversas da cultura manteve o tom de não conformismo da produtora e todos decidiram correr o risco de usar uma linguagem nova na construção do vídeo.

“Decidimos correr uns riscos, sair da zona de conforto. Pra nós mesmos, como estudo, como aprendizado e pra linguagem documental que é feita no Estado (...) Até o momento em que o diretor disse ‘gravando’, não tínhamos idéia do rumo que a coisa tomaria, porque gravar direito, sem controle do ambiente, sem instrução dos entrevistados, podia colocar tudo a perder. Mas o diretor sempre conseguia puxar o barco de volta quando ele se afastava um pouco da margem”, conta a produtora executiva e assistente de direção, Daniela Andrade.

A saída da ‘zona de conforto’ significou reunir em torno de uma mesa farta os músicos do grupo Roda de Samba, Jorge Cardoso, Jésse Lauro (filho de Da Costa e um dos mantenedores de seu acervo e memória) e o professor Écio Rogério - que tem o sambista como objeto de estudo de uma tese de mestrado.

O número restrito de participações se deu por questões de logística e de ordem financeira. Para ser aprovado, o projeto sofreu cortes no orçamento, fato considerado comum na produção de audiovisuais. A produção do documentário contou com a ajuda de amigos e parceiros para a cessão de transporte de equipamentos e disponibilização do cenário, por exemplo.

Patrocínio mesmo a Artrio conseguiu apenas com duas empresas, os Supermercados Araújo e a rede de Lojas Agroboi. “Patrocínio quase não existe. Se não fossem as leis de incentivo, os realizadores tirariam dos bolsos pra poder fazer seus filmes. E mesmo com as leis, existem dificuldades. A lei aprova um orçamento de valor ‘X’, quase sempre com cortes, emite um bônus fiscal e a gente tem que bater na porta do empresário e convencê-lo de nos repassar aquele valor em troca de abatimento em impostos. Se você for pensar, não é má idéia pro empresariado, ou é? Mas ainda existe resistência”, diz Daniela Andrade.

Breve nas salas de exibição – No começo da produção, os idealizadores do vídeo enfrentaram um obstáculo quase tão difícil quanto levantar os recursos para a sua realização: a pesquisa de dados sobre a vida e a obra de Da Costa. Com pouco material documentado, a equipe buscou o Departamento de Patrimônio Histórico, redações de jornais, mas foi com o filho do compositor e com o professor Écio Rogério, que elabora tese de mestrado sobre Da Costa, o maior número de informações. Depois de pronta a gravação, feita ao som das canções do sambista, é momento de capturar as fitas de quase cinco horas de filmagem. Para decupar, separar o filme em blocos, definir a linha e editar, deve-se levar em torno de 2 meses.

Ainda não há data para o lançamento do documentário, mas é provável que seja exibido pela primeira vez no Festival Chico Pop, como ocorreu com o vídeo ‘O tea-tro de Betho Rocha’, no ano passado. Daniela Andrade faz questão de destacar que existem diversos personagens como o Betho Rocha, como o Da Costa, que mudaram a forma de fazer cultura no Acre em algum momento e acabaram esquecidos.
“É importante lembrar a obra dessas pessoas. Fortalece a identidade, sabe? São personagens ricos que merecem ter suas histó-rias contadas, até pra manutenção da memória”.

Matéria escrita por Golby Pullig para o jornal A Gazeta. Confira aqui.

A Equipe Artrio agradece à Golby Pullig e ao jornal A Gazeta pela divulgação desse trabalho. É extremamente importante, não só para o nosso fortalecimento, mas também para o fortalecimento da cultura acreana.

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